domingo, 5 de outubro de 2008

Ódio


Uma penumbra rarefeita
dilacerando peitos e respeitos.
O sangue escuro que jorra,
o miasma negro que inunda o pensamento.
O buraco que se afunda,
que se constrói lento e confiante.
Caminhos tortuosos que levam
a um repulsa que se pensava distante,
mas que é sombra a seguir a paz.
Um tiro, um xingamento, um olhar.
Nasce a dor, criança abandonada,
vem o ódio, adulto inconformado.
O que assusta é a rapidez:
o ouvido que escuta o grito de hoje
é o que ouve o próprio lamento no amanhã.
No fundo, o gato e o rato são um só,
um vira o outro, caçam e fogem,
se escondem e se atacam.

E todas as promessas que se fazem
em papel e em pensamento, onde estão?
Onde se escondem as intenções do sereno?
Corroídas e dilaceradas, aguardam.
Esperam a queda do amargo,
aguardam a vontade ser maior.
Maior do que a dor pulsante.
Maior do que um orgulho desenfreado.

O instinto não é pretexto,
simplesmente não pode ser.
Parece haver coisas mais,
o véu é espesso mas imperfeito.
O perdão sei que germina, e
'apenas há algo mais' é o que dizem
as palavras que não existem, puras e reais.
Acredito nelas. Por quê?
Pois a resposta é clara quando
após um acesso de lamúria raivosa,
depois de uma pontada pontiguada no peito,
vem a pergunta a me rondar de leve:
afinal, o ódio já contou alguma verdade?
Foto: 'Dog' - Jono Rotman.

Um comentário:

Lucas... disse...

é cara .... o odio também nos cega poís é com ele que concentrmos nossas injúrias com o mundo ou com alguém....