sábado, 15 de novembro de 2008

Envelheço na cidade



A festa até que não foi ruim.
Mas sei que não não pode ser chamada de boa.
Poucos dos convidados estavam pela amizade.
Sei que muitos vieram pela consideração.
Uma consideração em que às vezes vejo pena.
A festa foi morna: copia a vida.

Deus, Destino ou Acaso: não me faça morrer agora.
Não agora em que começo a viver de verdade...
Não agora, meu último e único ano de adolescência.
Sei que não passo fome, nem frio, nem sede.
Que os outros conhecem a dor muito melhor que eu.
Mas eu só não sabia que seria tão difícil.
Não quero um poema pessimista: não é como me sinto.
Estou otimista, sedento de mudanças.
Só me dá medo as coisas continuarem,
Com os velhos problemas sendo resolvidos apenas
Na idade avançada, e quando eu ver finalmente
A felicidade bater em minha portas,
A face da morte me visitar no mesmo instante.
Uma vida vazia?
Eu só não sei se sei
Mudar isso.
Foto: Boatride - Allan Davey

sábado, 18 de outubro de 2008

Um Trecho Solitário

' ... queria muito falar da solidão.
Mas percebeu que ninguém o escutaria.
Mesmo que escutassem, não seria com entendimento nem compreensão.
Talvez só as paredes seriam suas confidentes.
Sim, apenas as paredes...
Oh, espere.
Conseguira falar sobre a solidão...'

Foto: 'Interior Worlds I Am Calling' - Eugene Donohoe

PS. Embarque pra Bolívia amanhã, 3 da tarde. Finalmente, fora do exílio, momentaneamente. =)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Oceano

Quero navegar.
Zarpar, me libertar.
A terra que meus olhos dizem ser firme
não mais me sustenta, me parece instável.
Lembranças e memórias já não me seguram,
e as certezas terrenas não me convencem mais.
Sinto o Mar a me chamar.

O Oceano, que ao se rebaixar
a todos, a todos atrai,
do regato diminuto ao grande rio...
O Oceano, que sob seu ondeado,
guarda os maiores tesouros,
em absurdas profundezas.
O Oceano, a quem vi o Astro-Rei
prestar reverência,em um belo alvorecer.

Não me contento mais com as praias,
nem com a costa,
e tampouco com a superfície.
Quero com meu humilde barco
ser novato marinheiro,
a desvendar os segredos da Imensidão.

Quero viajar em Tuas águas,
e desvendar o Teu mistério,
clareando assim o meu,
pois em verdade sei que são um só.
Quero ver na luz da Realidade
que a vida e a morte
são apenas ondas que vão e vêm,
em inlimitável extensão.

Quero ser fiel marujo,
e aprender a não mais temer
tempestades e dilúvios,
sabendo que tudo é a mesma Água em outra forma.
Quero ver a Vida em longos mergulhos,
onde meu sentir me guiará,
em marés infinitas
que meus olhos não conseguirão vislumbrar.

Quero tocar a Profundidade,
e ancorar-me em firmes torrentes.
Quero ser ensinado pelo Saber a deslumbrar
a Infinidade com a alma.
Quero me banhar e tirar
as falsas crenças de minha visão.
Quero intuir e sentir Teu fluido, o Ser e o Viver.

E um dia, com a experiência de uma vida,
mas ainda como eterno aprendiz,
espero poder dizer a quem quiser ouvir,
sobre a sede que se mata no Mar.
E a quem quiser mais saber,
direi que És Infinito e Indizível.
Que És o Infindável, o Perfeito Oceano.

Só peço, Mar, que me deixes navegar,
navegar e navegar...
Foto: 'Waipapa Point' - Jens Waldenmaier
PS. Poema 'à moda antiga', mais um da série 'hoje não escreveria'. Via Maltese, julho/08.

domingo, 12 de outubro de 2008

Nome do blog

Bom, percebi que o nome do blog ta errado. =\
Mas vou manter desse jeito por enquanto. O nome 'Not so obvious' (o modo correto) já está sendo usado, por alguém que não posta desde 2004. Mas fazer o que...
Se pah depois eu compro o domínio, por ora fica assim mesmo. =P

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Balé

A garota não sabia dançar.
Não aquela dança de boate,
em que um passo pra cá
e outro pra lá resolve a situação.
Não aquela em que saber dar
um giro bem manjado
ou talvez um rodopio bem aproveitado
seja motivo de glória intensa.
Naquela dança, a menina até
tinha lá os seus talentos,
talvez soubesse apenas não passar vergonha,
mas alguns passos sabia dar.
A dança que ela não sabia dançar era outra.
Era aquela que se baila
da aurora ao alvorecer,
do sol a pino à lua prateada.
Não sabia se era o chão
que era escorregadio,
ou se suas sapatilhas
que lhe apertavam.
Ignorava se era a coreografia
que não lhe agradava,
ou se seus pequenos ouvidos
que com a música não se animavam.
Talvez no fundo, bem no fundo,
ela soubesse a razão.
O melhor bailarino dança no pior piso,
na pior música e até sem sapatilhas.
Quem sabe, quem sabe, seja apenas a garota
que não ainda não viu seus talentos,
ou que ainda não se deixou
dar um passo em falso sozinha.
A garota sabe apenas de uma coisa, claramente.
O teatro anda a se esvaziar,
e ela sabe que um dia, um dia,
se não for dançar, todos os assentos
se esvaziarão, e ela avistará
mais uma vez o espetáculo sozinha,
torcendo para que ninguém a veja,
naquele assento que ninguém quer estar.
Foto: 'Corps' - David Scheinmann
PS. O poema anterior não é gótico. Não é uma apologia ao ódio, muito pelo contrário. As 2 últimas estrofes mostram isso... =)

domingo, 5 de outubro de 2008

Ódio


Uma penumbra rarefeita
dilacerando peitos e respeitos.
O sangue escuro que jorra,
o miasma negro que inunda o pensamento.
O buraco que se afunda,
que se constrói lento e confiante.
Caminhos tortuosos que levam
a um repulsa que se pensava distante,
mas que é sombra a seguir a paz.
Um tiro, um xingamento, um olhar.
Nasce a dor, criança abandonada,
vem o ódio, adulto inconformado.
O que assusta é a rapidez:
o ouvido que escuta o grito de hoje
é o que ouve o próprio lamento no amanhã.
No fundo, o gato e o rato são um só,
um vira o outro, caçam e fogem,
se escondem e se atacam.

E todas as promessas que se fazem
em papel e em pensamento, onde estão?
Onde se escondem as intenções do sereno?
Corroídas e dilaceradas, aguardam.
Esperam a queda do amargo,
aguardam a vontade ser maior.
Maior do que a dor pulsante.
Maior do que um orgulho desenfreado.

O instinto não é pretexto,
simplesmente não pode ser.
Parece haver coisas mais,
o véu é espesso mas imperfeito.
O perdão sei que germina, e
'apenas há algo mais' é o que dizem
as palavras que não existem, puras e reais.
Acredito nelas. Por quê?
Pois a resposta é clara quando
após um acesso de lamúria raivosa,
depois de uma pontada pontiguada no peito,
vem a pergunta a me rondar de leve:
afinal, o ódio já contou alguma verdade?
Foto: 'Dog' - Jono Rotman.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Carnaval

A Máscara ou O Ego
Muitos são os que se identificam
com o molde que os cobre.
A máscara imita bem o rosto do carnavalesco.
Um olhar atento, contudo,
mostra as rachaduras da ilusão:
A máscara não é o folião,
nem o folião é a máscara.
Mas quando tudo é festa,
quem se preocupa com isso?
A Carne
Os sentidos entram em êxtase.
Grande festa, intenso júbilo.
Se bebe para esquecer,
e se dança para cair.
O prazer é divinizado, procurado em cada canto,
em cada esquina, em cada fuga.
E em um estranho paradoxo,
também é assim com a dor.
O Baile do Cotidiano
Assim se segue o baile,
com faces postiças e o orgulho profano.
Parece eterna a festa, mas não é.
Nenhum carnaval é para sempre...
Mas parece tolo pensar nisso,
se os vícios são permitidos
e a carne é tão abundante!
E assim vai o carnaval, dia e noite, séculos e séculos...
PS. É engraçado como as opiniões mudam... Eu, hoje, não escreveria esse poema. Poesia do Via Maltese, julho/08.

Espelho


Um menino que conheço sempre achou que
seu espelho era um bom amigo.
Com ele ria, chorava, fazia caretas.
Contava-lhe segredos íntimos.
Isto durou anos...

Um dia, porém, o espelho lhe fez
uma pergunta simples e direta: 'Quem é você?'
O menino não pôde responder.
Desde então, essa amizade
nunca mais foi a mesma.

Hoje, o menino procura a resposta.
Ainda não a achou.
Mas sabe que ela não está no espelho.

PS. Esse poema era do Via Maltese, julho/08. Alguns poemas daquele blog serão colocados aqui novamente.

A Volta

Bom, aqui estou de volta à blogosfera...
O Via Maltese, meu antigo blog, foi extinto devido à motivos de força maior, e pode-se dizer que é o pai desse novo blog, o Not so obvius, que nasce por volta de 1 da manhã do dia 3 de outubro, enquanto em pouco menos de 4 horas irei acordar, num dia em que tenho uma prova em que preciso ir super bem, e não consigo desligar o pc até finalizar aqui.
O motivo da minha volta aos blogs é que eu participei de um concurso recentemente e eu havia prometido a mim mesmo (por motivos pessoais) que se eu vencesse eu faria um novo blog e voltaria a escrever. Pois bem, ganhei e aqui estou.
Qualquer manifestação aqui é bem vinda, e os comentários são sempre lidos.

É isso.
Vamo ver se isso aqui dura. ;P