sábado, 18 de outubro de 2008

Um Trecho Solitário

' ... queria muito falar da solidão.
Mas percebeu que ninguém o escutaria.
Mesmo que escutassem, não seria com entendimento nem compreensão.
Talvez só as paredes seriam suas confidentes.
Sim, apenas as paredes...
Oh, espere.
Conseguira falar sobre a solidão...'

Foto: 'Interior Worlds I Am Calling' - Eugene Donohoe

PS. Embarque pra Bolívia amanhã, 3 da tarde. Finalmente, fora do exílio, momentaneamente. =)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Oceano

Quero navegar.
Zarpar, me libertar.
A terra que meus olhos dizem ser firme
não mais me sustenta, me parece instável.
Lembranças e memórias já não me seguram,
e as certezas terrenas não me convencem mais.
Sinto o Mar a me chamar.

O Oceano, que ao se rebaixar
a todos, a todos atrai,
do regato diminuto ao grande rio...
O Oceano, que sob seu ondeado,
guarda os maiores tesouros,
em absurdas profundezas.
O Oceano, a quem vi o Astro-Rei
prestar reverência,em um belo alvorecer.

Não me contento mais com as praias,
nem com a costa,
e tampouco com a superfície.
Quero com meu humilde barco
ser novato marinheiro,
a desvendar os segredos da Imensidão.

Quero viajar em Tuas águas,
e desvendar o Teu mistério,
clareando assim o meu,
pois em verdade sei que são um só.
Quero ver na luz da Realidade
que a vida e a morte
são apenas ondas que vão e vêm,
em inlimitável extensão.

Quero ser fiel marujo,
e aprender a não mais temer
tempestades e dilúvios,
sabendo que tudo é a mesma Água em outra forma.
Quero ver a Vida em longos mergulhos,
onde meu sentir me guiará,
em marés infinitas
que meus olhos não conseguirão vislumbrar.

Quero tocar a Profundidade,
e ancorar-me em firmes torrentes.
Quero ser ensinado pelo Saber a deslumbrar
a Infinidade com a alma.
Quero me banhar e tirar
as falsas crenças de minha visão.
Quero intuir e sentir Teu fluido, o Ser e o Viver.

E um dia, com a experiência de uma vida,
mas ainda como eterno aprendiz,
espero poder dizer a quem quiser ouvir,
sobre a sede que se mata no Mar.
E a quem quiser mais saber,
direi que És Infinito e Indizível.
Que És o Infindável, o Perfeito Oceano.

Só peço, Mar, que me deixes navegar,
navegar e navegar...
Foto: 'Waipapa Point' - Jens Waldenmaier
PS. Poema 'à moda antiga', mais um da série 'hoje não escreveria'. Via Maltese, julho/08.

domingo, 12 de outubro de 2008

Nome do blog

Bom, percebi que o nome do blog ta errado. =\
Mas vou manter desse jeito por enquanto. O nome 'Not so obvious' (o modo correto) já está sendo usado, por alguém que não posta desde 2004. Mas fazer o que...
Se pah depois eu compro o domínio, por ora fica assim mesmo. =P

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Balé

A garota não sabia dançar.
Não aquela dança de boate,
em que um passo pra cá
e outro pra lá resolve a situação.
Não aquela em que saber dar
um giro bem manjado
ou talvez um rodopio bem aproveitado
seja motivo de glória intensa.
Naquela dança, a menina até
tinha lá os seus talentos,
talvez soubesse apenas não passar vergonha,
mas alguns passos sabia dar.
A dança que ela não sabia dançar era outra.
Era aquela que se baila
da aurora ao alvorecer,
do sol a pino à lua prateada.
Não sabia se era o chão
que era escorregadio,
ou se suas sapatilhas
que lhe apertavam.
Ignorava se era a coreografia
que não lhe agradava,
ou se seus pequenos ouvidos
que com a música não se animavam.
Talvez no fundo, bem no fundo,
ela soubesse a razão.
O melhor bailarino dança no pior piso,
na pior música e até sem sapatilhas.
Quem sabe, quem sabe, seja apenas a garota
que não ainda não viu seus talentos,
ou que ainda não se deixou
dar um passo em falso sozinha.
A garota sabe apenas de uma coisa, claramente.
O teatro anda a se esvaziar,
e ela sabe que um dia, um dia,
se não for dançar, todos os assentos
se esvaziarão, e ela avistará
mais uma vez o espetáculo sozinha,
torcendo para que ninguém a veja,
naquele assento que ninguém quer estar.
Foto: 'Corps' - David Scheinmann
PS. O poema anterior não é gótico. Não é uma apologia ao ódio, muito pelo contrário. As 2 últimas estrofes mostram isso... =)

domingo, 5 de outubro de 2008

Ódio


Uma penumbra rarefeita
dilacerando peitos e respeitos.
O sangue escuro que jorra,
o miasma negro que inunda o pensamento.
O buraco que se afunda,
que se constrói lento e confiante.
Caminhos tortuosos que levam
a um repulsa que se pensava distante,
mas que é sombra a seguir a paz.
Um tiro, um xingamento, um olhar.
Nasce a dor, criança abandonada,
vem o ódio, adulto inconformado.
O que assusta é a rapidez:
o ouvido que escuta o grito de hoje
é o que ouve o próprio lamento no amanhã.
No fundo, o gato e o rato são um só,
um vira o outro, caçam e fogem,
se escondem e se atacam.

E todas as promessas que se fazem
em papel e em pensamento, onde estão?
Onde se escondem as intenções do sereno?
Corroídas e dilaceradas, aguardam.
Esperam a queda do amargo,
aguardam a vontade ser maior.
Maior do que a dor pulsante.
Maior do que um orgulho desenfreado.

O instinto não é pretexto,
simplesmente não pode ser.
Parece haver coisas mais,
o véu é espesso mas imperfeito.
O perdão sei que germina, e
'apenas há algo mais' é o que dizem
as palavras que não existem, puras e reais.
Acredito nelas. Por quê?
Pois a resposta é clara quando
após um acesso de lamúria raivosa,
depois de uma pontada pontiguada no peito,
vem a pergunta a me rondar de leve:
afinal, o ódio já contou alguma verdade?
Foto: 'Dog' - Jono Rotman.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Carnaval

A Máscara ou O Ego
Muitos são os que se identificam
com o molde que os cobre.
A máscara imita bem o rosto do carnavalesco.
Um olhar atento, contudo,
mostra as rachaduras da ilusão:
A máscara não é o folião,
nem o folião é a máscara.
Mas quando tudo é festa,
quem se preocupa com isso?
A Carne
Os sentidos entram em êxtase.
Grande festa, intenso júbilo.
Se bebe para esquecer,
e se dança para cair.
O prazer é divinizado, procurado em cada canto,
em cada esquina, em cada fuga.
E em um estranho paradoxo,
também é assim com a dor.
O Baile do Cotidiano
Assim se segue o baile,
com faces postiças e o orgulho profano.
Parece eterna a festa, mas não é.
Nenhum carnaval é para sempre...
Mas parece tolo pensar nisso,
se os vícios são permitidos
e a carne é tão abundante!
E assim vai o carnaval, dia e noite, séculos e séculos...
PS. É engraçado como as opiniões mudam... Eu, hoje, não escreveria esse poema. Poesia do Via Maltese, julho/08.

Espelho


Um menino que conheço sempre achou que
seu espelho era um bom amigo.
Com ele ria, chorava, fazia caretas.
Contava-lhe segredos íntimos.
Isto durou anos...

Um dia, porém, o espelho lhe fez
uma pergunta simples e direta: 'Quem é você?'
O menino não pôde responder.
Desde então, essa amizade
nunca mais foi a mesma.

Hoje, o menino procura a resposta.
Ainda não a achou.
Mas sabe que ela não está no espelho.

PS. Esse poema era do Via Maltese, julho/08. Alguns poemas daquele blog serão colocados aqui novamente.

A Volta

Bom, aqui estou de volta à blogosfera...
O Via Maltese, meu antigo blog, foi extinto devido à motivos de força maior, e pode-se dizer que é o pai desse novo blog, o Not so obvius, que nasce por volta de 1 da manhã do dia 3 de outubro, enquanto em pouco menos de 4 horas irei acordar, num dia em que tenho uma prova em que preciso ir super bem, e não consigo desligar o pc até finalizar aqui.
O motivo da minha volta aos blogs é que eu participei de um concurso recentemente e eu havia prometido a mim mesmo (por motivos pessoais) que se eu vencesse eu faria um novo blog e voltaria a escrever. Pois bem, ganhei e aqui estou.
Qualquer manifestação aqui é bem vinda, e os comentários são sempre lidos.

É isso.
Vamo ver se isso aqui dura. ;P