segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A criança que rodava


A criança rodava,
rodava suas tranças,
rodava o seu mundo.
E enquanto observava,
ela se indagava.
Por que eu sou eu,
e não aquele na esquina?
A partir de onde eu sou eu,
e onde é que aquele lá termina?
E a criança rodava,
rodava sua lancheira,
rodava o seu mundo.
E enquanto estudava,
ela se indagava.
Aquele ali pensa o mesmo que eu penso
e sente o mesmo o que sinto?
O que ele teme, o que o faz tenso?
Ele se sente preso num labirinto?
E a criança rodava,
rodava sua pasta,
rodava o seu mundo.
E enquanto trabalhava,
ela se indagava.
Já sei que nasci dos meus pais.
Mas antes de acordar, acordado já era eu?
Era feliz em completa paz,
Ou vagava eu num grande breu?
E a criança rodava,
rodava o seu filho,
rodava o seu mundo.
E enquanto relembrava,
ela se indagava.

O que é o mundo: uma ilusão ou uma verdade?
E a mim, o que espera: alívio ou a cruz?
Daqui sentirei saudade,
ou só serei mais um a temer a última luz?
E pela última vez,
a criança rodava.
Rodava sua alma,
rodava o seu mundo.
E enquanto rodava,
ela se acalmava.
Foto: Archway with Child - John McDermott

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Afogamentos Doentios


Primeiro veio esse,
com a fala mansa
e as costas curvadas.
Proteção me prometeu:
trancados na masmorra,
quem no mundo se lembraria de nós?
Mas sua passividade era gritante,
o resultado, insustentável.
As lágrimas logo nos afogaram
e que pena: você nem tentou nadar.

Depois veio aquele,
com o discurso inflamado
e o peito inflado.
Proteção me prometeu:
com os dentes grunhidos,
quem não temeria nossos punhos cerrados?
Sua violência, contudo, era exagero
e o que nasceram foram frutos podres.
As lágrimas logo nos afundaram,
e que lástima: dar socos n'agua não resolveu.
Hoje vivo só.
Minto, tenho companhia:
essa tentativa de ser o filho
daqueles velhos mestres falecidos.
Forte e doce, sagaz e inocente,
o meio e o equilíbrio, o sorriso.
Para que mais uma vez, não tenha eu que me safar
das lágrimas amargas
e dos afogamentos doentios.
Foto: Particular Ocean - Felipe Polillo

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

De Volta


De volta estou.
Retorno abstrato e completo: volto à vida.
E nada mais declaro.
Veja meus olhos.
Me beije.
Ou leia meus poemas.
Foto: 'O boy do Rembrandt' - Felipe Polillo
PS: O blog está de volta à ativa. E o dono também, aliás.